A quem darei o meu coração?

“Filho meu, dá-me o teu coração; e deleitem-se os teus olhos nos meus caminhos.” Pv 23:26

Quem é digno de receber nosso coração? Quem irá cuidar dele? A quem poderemos entregá-lo, tendo uma profunda tranquilidade e paz, ao sabermos que jamais viria a machucá-lo? Vejamos alguns personagens bíblicos, encontrados em alguns relatos no Novo Testamento que entregaram seus corações.

1. A samaritana deu seu coração a relacionamentos passageiros.

1. Jesus oferece um relacionamento eterno: “Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; 14 mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.” (Jo 4:13-14)

2. Jesus levou a considerar seu estado irregular: cinco maridos (Jo 4:16-18)

3. Jesus a levou a um relacionamento com Deus: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4:23,24)

Temos relacionamentos passageiros. E o Relacionamento eterno? Damos nosso coração a quem passa velozmente pela vida. E ao que vive para sempre?

2. O jovem rico entregou seu coração às riquezas. (Mt 19)

1. Desejava a vida eterna, mas também os bens terrenos: “E eis que se aproximou dele um jovem, e lhe disse: Mestre, que bem farei para conseguir a vida eterna?” (Mt 19:16)

2. Sua religiosidade era limitada: “Tudo isso tenho guardado; que me falta ainda?” (Mt 19:20). Considerava que tão somente a guarda (e não principalmente a observância e prática) dos mandamentos e leis bastava. Observe bem que ele não citou “Não cobiçarás”. Porque teria sido?

3. Seu coração era das riquezas. Ao ouvir de Jesus que deveria vender tudo o que tinha e solidarizar-se com os pobres, entristeceu-se. Não tinha um coração aberto e receptivo, necessário a abrigar e crer em Jesus. O relato bíblico informa: “Mas o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste; porque possuía muitos bens.” (Mt 19:22)

Parece-nos que eram as riquezas que o possuía. Entregar seus bens (e isto seria uma boa obra) não o salvaria, mas seria o exercício de um coração propício e dependente tão somente de Jesus, e não de seus bens.

Infelizmente este jovem, após o encontro com a morte, não pode usufruir de seus bens. E tudo o que tinha, para quem ficou? Reteve um tesouro na terra, que se dissipou com o tempo (lembre-se que tudo o que tinha está debaixo de escombros e ruínas, no passado) e não ajuntou um tesouro no céu, onde a traça não corroe e o ladrão não rouba.

Em que temos posto nosso coração? Qual alcance de nossa religiosidade? De onde, ou do que vem nossa alegria?

3. A mulher pecadora derramou seu coração aos pés de Jesus (LC 7:37)

Derramou seu passado: vaso de bálsamo (v. 37) Derramou seu arrependimento: as lágrimas que lavam (v. 38) Derramou seu orgulho e vaidade: os cabelos que enxugam (v. 38)

“Mas de lá buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma.” (Dt 4:29)
“O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” (Sl 51:17)

Não só a pessoa recebe nova valorização, mas também a vida cotidiana ganha nova dignidade:

” Mt. 6:11……. O pão está entre os direitos da vida, pois ele é pedido ao Pai, na oração que Cristo ensinou, A dignidade da vida inclui, para Jesus, a simples amizade-fraternidade que cresce em torno do pão.

” Mt. 8:11; 26:29…….. A plenitude do Reino é, repetidas vezes, comparada a uma ceia. Estes traços históricos indicam que a prática de Jesus valorizava a comunhão fraterna que se desenvolve em volta da mesa.

Pela amizade, pela fraternidade da mesa e pelo partir diário do pão, no contexto maior do Reino, o convívio humano passa a ser um bem em si, sem outro objetivo além do prazer da fraternidade. Comer à mesa e cultivar a amizade cotidiana é expressão de pura compaixão humana.

Tais episódios nos ajudam a enxergar na prática de Jesus sua compreensão da importância da vida cotidiana abundante, plena, como indicação da inauguração do Reino de Deus.

A consideração da pessoa humana como valor absoluto e o convite à antecipação do banquete do Reino no partir diário do pão, na fraternidade e na comunhão da verdadeira amizade entre irmãos e companheiros, de alguma forma eleva a dignidade do cotidiano humano.

A pedagogia de Jesus acontece dentro de uma perspectiva clara direcionada à implantação plena do Reino. E esta perspectiva se opõe radicalmente à lógica da dominação. Daí seu grande comprometimento com os desfavorecidos na sociedade. Se queremos praticar a pedagogia de Cristo não podemos perder de vista esta perspectiva.

4 – A simplicidade

Se queremos adotar a pedagogia do Mestre em nossas igrejas e instituições paralelas devemos estudar as lições de Cristo, Seu caráter e Suas práticas. Precisamos nos libertar do formalismo e da tradição e apreciar a originalidade, a autoridade, a espiritualidade, a bondade, a humildade, a benevolência e o poder do Seu ensino.

Jesus é simples, humilde, não há em Sua instrução nada vago ou difícil de ser entendido. Ele falava e agia com clareza e ênfase, com força solene e convincente:

” Jesus não tinha um púlpito, ou uma escola. Ele ensinava, pregava e curava junto ao mar (Mt. 4:18); nas sinagogas (Mt. 4:23); no monte (Mt. 5:1); nas casas (Mt. 8:14); cidades e povoados (Mt. 9:35); no campo (Mt. 14:13 e19); no caminho (Mt. 20:17 e 29-30); no templo (Mt. 21:12,14), etc.
” Seu ensino é ancorado em situações comuns do dia-a-dia das pessoas: o sal, a luz, o relacionamento senhor X servo, as aves do céu, os lírios do campo, o comer, o vestir, a porta estreita e a porta espaçosa, a seara, o trabalho, a semeadura, o pastoreio, a árvore e seus frutos, etc…

” Ele não escolheu sábios, nobres ou ricos para seus discípulos, mas convidou rudes pescadores, consertadores de redes, um coletor de impostos, etc. (Mt.4:18-22; 9:9); sentou-se à mesa com publicanos e pecadores (Mt.9:10).

” Jesus estabelece um contato muito próximo e íntimo com as pessoas, estava sempre no meio do povo, multidões o acompanhavam, Ele tocava as pessoas, fez questão de impor as mãos sobre as crianças, etc. (Mt. 5:1; 19:13-15 ).

” As ações e propostas de Jesus são de uma simplicidade cristalina. Veja a solução que Jesus deu ao problema surgido nas bodas em Caná da Galiléia (Jo.2:5-7). E também a multiplicação dos pães (Mt.14:17-l8), a parábola da dracma perdida (Lc.15:8) etc.

CONCLUSÃO

Precisamos considerar seriamente a Pedagogia de Jesus, porque nós como Igreja temos uma vocação divina: lutar pelo estabelecimento do Reino de Deus e anunciar a mensagem de salvação para o homem, que é o próprio Cristo. Esta é a razão primária da existência da Igreja e por isto mesmo toda a sua atividade de pregação e ensino, tem que perseguir este objetivo com obstinação.

Num processo de pregação e ensino em que se privilegia a prática, os resultados concretos desta prática, a pessoa como centro e a simplicidade, a tarefa educacional da Igreja se amplia e estimula os homens a crescerem juntos, na busca do conhecimento, da reflexão e da ação que leva a transformações.
Afinal, foi Ele mesmo que disse: “Aprendei de mim.” (Mt.11:29) e “Sêde vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste.” (Mt.5:48)

 

Autor: Cristina Oliveira Vasconcelos

 

BIBLIOGRAFIA
1. “Bíblia Sagrada”, trad. João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil.
2. “Conselhos sobre Educação”, Ellen G. White, Casa Publicadora Brasileira.
3. “El Ministério Docente de la Iglesia”, James D. Smart, Methopress.
4. “A prática pedagógica de Jesus”, Ely Eser Barreto César, Ed. Agentes da Missão. (Coleção Dons e Ministérios, vol.8).
5. “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire, Ed. Paz e Terra.
6. Revistas “Voz Missionária”, 2o trimestre/1989 e 3o trimestre/1994, Imprensa da Fé.
7. Monografia “O Desafio do Adolescente à Missão de Deus através do Ensino na Escola Dominical”, Pastora Marisa de Freitas Ferreira Coutinho, Fac. Teologia da Igreja Metodista.
8. Apostila “Educar para Cristo”, Marianna Allen Peterson, Instituto Metodista de Ensino Superior.

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